Foram 13 dias em La Habana, vividos entre o primeiro e o segundo turno das eleições brasileiras de 2010. Estar em Cuba foi a realização de um sonho e pretendo dividir minhas impressões neste blog!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A aterrissagem e os chavões sobre Cuba

Foi no espaço virtual que consegui um guia caseiro, onde encontrei a pensão do Nelson. Os cidadãos cubanos não tem permissão para hospedar estrangeiros em suas casas: essa é uma prática ilegal. Desde o princípio decidi que não me hospedaria em hotel, lugares "artificiais" em se tratando das minhas intensões de viagem: eu gostaria de ser menos turista possível. Então, no guia da amiga de uma comunidade virtual, soube das casas de aluguel, onde se alugam quartos para turista e em contrapartida os donos devem pagar um imposto para o Estado. Liguei para Habana e fiz a reserva para os 13 dias. O quarto era espaçoso, com banheiro privativo, uma pequena geladeira, ventilador e ar condicionado, que aliás nem usei. Eu levei um radinho de pilha e um livro como companhia: as cartas trocadas entre Hanah Arendt e Mary Mac Carthy por anos a fio (do final dos anos 1950 até a morte da filósofa alemã). Obviamente Cuba foi mencionada.
A calle Merced fica em Habana Vieja e o número 14 ébem próximo do mar, de onde se avista o porto e pode-se percorrer um passeio. Gosto de andar quando viajo e a localização da pensão não poderia ser melhor. Cheguei antes do anoitecer. Foi um horário escolhido, já esse é o melhor momento do dia, quando a inclinação do sol na Terra provoca luzes deliciosas para se observar. Troquei alguns euros por CUC, que é a moeda dos estrangeiros logo na chegada ao aeroporto. Muita gente desembarcando com malas e pacotes abarrotados. Cheguei em Habana via Lima, pela Taka airlines. Muita gente esperando no aeroporto também. Preenchidos os papéis na alfândega, sai pelo portão de "nada a declarar." Desejei pegar um ônibus, mas não havia linhas recorrentes e o jeito foi gastar 25 CUC até Habana Vieja de taxi, atravessando toda a cidade. Adoro conversar com os taxistas e mesmo com meu portunhol me atrevi direitinho. Observei a cidade florida, verde; as propagandas do regime e a "limpeza" visual: sempre abominei os letreiros exagerados e as placas coloridas nas fachadas das lojas, típicas dos países capitalistas. Fiz do motorista um leve guia turístico; passei e conheci ligeiramente alguns pontos. O carro era bastante novo e de propriedade do estado. Há os amarelos, privados e em fase de experimentação. Aliás, sequer andei nos carangos antigos, que diga-se de passagem, dão um fedor horrível de combustível queimado à cidade e também aquela nuvem de poluição características das cidades grandes com carros demais, o que não é o caso de Habana.
Eu embarquei no Rio e no Peru juntei-me no voo com um grupo familiar de São Paulo. Gosto de viajar "solita" por diversos motivos. Um deles é que posso me fingir de arrogante e ouvir as conversas alheias ou interagir na boa com as pessoas. Nesse caso me portei da primeira forma. Ouvindo os diálogos, percebi que as jovens eram garotas moderninhas e abastadas, portando um tom superior típico dos paulistanos cheios de grana. Eis que depois da aterrissagem, no caminho para pegar as malas, uma delas diz: "Uau, existem escadas rolantes por aqui!"... Nínguém riu. Não era uma piada. Eu levantei os olhos como quem diz: "Oh, céus! Eu não estou ouvindo isso."
Foi exatamente sem esse espírito viciado e estereotipado sobre Cuba que eu desejei viajar.
(Foto da fachada da casa do Nelson com a identifição: Arrendador Divisas.)

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