Foram 13 dias em La Habana, vividos entre o primeiro e o segundo turno das eleições brasileiras de 2010. Estar em Cuba foi a realização de um sonho e pretendo dividir minhas impressões neste blog!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

“Invasão” de um ritual de Santeria

Eu estava com Lemay, um jovem diretor de escola primária que conheci em Habana quando ouvimos sons estonteantes de tambores vindos de um prédio residencial. Eu o convidei pra subir e espiarmos. Lemay a princípio não topou, dizendo que era uma casa particular. Eu insisti e ele cedeu. Devo dizer que me vejo doida ao som de tambores. Subimos as escadarias do casarão em Habana Vieja seguindo o tambores alucinados. No segundo andar, numa sala que aparentava minúscula por conta do número de pessoas, nos deparamos com um ritual de santeria. A porta estava aberta e uma das mulheres que dançava fez um gesto nos convidando para entrar, ao mesmo tempo em que apontou uma bacia no chão onde petálas de rosas brancas e ervas boiavam na água. Nos mostrou como deveríamos fazer, então bezuntamos a nuca com o líquido e entramos na roda. Havia um passo característico e uma vez na roda era preciso dançar. Do lado oposto da sala um rapaz negro se jogou no chão e como uma cobra rastejou no meio da roda. Cantava-se uma frase repetidamente, como um mantra ao som dos tambores. Eu procurava acompanhar, curiosa. Sentia cheiro de pinga no ar e observei que o moço no chão estava todo molhado de cachaça. Ele atravessou a sala, rastejando, vindo em nossa direção. Nós ficamos bem próximos da porta. O rapaz em transe se contorcia e era muito magro, de cabelos rastafari. Ele se levantou e adentrou uma outra porta. Segundos depois ele retornou portando no topo da própria cabeça uma cabeça enorme de porco, verdadeira! Eu senti um misto de entusiasmo e nojo, pois ainda tinham pedacinhos de carne pendurados na parte do pescoço cortado. Ele dançava e foi recebido por uma mulher negra que dançava alucinadamente com ele, possuída, em transe. Lemay olhava pra mim e sorria; desajeitado, ele seguia o ritmo dos tambores, talvez em minha consideração. O rapaz com a cabeça de porco provocou um susto numa jovem que saiu afoita da sala. Nós saímos junto, ainda sentindo o ritmo forte dos tambores do ritual de santeria.
No quesito religioso Cuba tem muitas semelhanças com o Brasil: heranças africanas fortes. Entidades como Iemanjá, Óxum e Ogum também existem por lá. As correntinhas de missangas coloridas tem os mesmos significados que as das religiões africanas brasileiras (ao menos o azul claro de Iemanjá, estou certa). Observei também a existência de oferendas em encruzilhadas. Na praça da catedral de Habana, duas velhas negras vestidas de branco leem a sorte de turistas dispostos a pagar 6 CUC. Elas portam charutos gigantescos, maiores do que os grandes que eu trouxe. Parecem nossas baianas do Pelourinho.
Linko esse pequeno vídeo encontrado no youtube pra deixar uma idéia do que os tambores cubanos fizeram comigo naquela tarde de “invasão” com Lemay:

Nenhum comentário:

Postar um comentário