Foram 13 dias em La Habana, vividos entre o primeiro e o segundo turno das eleições brasileiras de 2010. Estar em Cuba foi a realização de um sonho e pretendo dividir minhas impressões neste blog!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Um amigo diretor

Era meta: conhecer uma escola primária em Habana. Na primeira que encontrei fui entrando sem lançar olhares às pessoas. Aliás, a escrivaninha na porta estava vazia. Encantei-me com o jardim da escola, florido e verdejante. Passei ao largo de uma sala de aula e a própria professora veio atrás de mim para dizer que eu não poderia estar ali. Envergonhada, desculpei-me e segui meu rumo por Habana Vieja, incerto, certamente. Acho que era meu terceiro dia na cidade. Eu já tinha observado estudantes nas ruas, passeando com adultos, vestidos com um uniforme parecido com os da minha infância: jardineiras cor de vinho, mas os estudantes usavam lencinhos amarrados no pescoço: um charme.
No dia seguinte fui em outra escola bem próxima da pensão do Nelson. Me apresentei como professora de História, do Brasil. A atendente negra, sentada na escrivaninha próxima da entrada, disse-me que o diretor estava em reunião e que eu voltasse no dia seguinte. Assim eu fiz e conheci Lemay, de apenas 27 anos de idade, licenciado em Informática e diretor há menos de um ano. Fui com ele até sua sala, no térreo. Passamos pelo "jardin martiano", onde um busto do cubano mais ilustre do século XIX era rodeado de plantas. O primeiro diálogo foi suficiente para causar simpatia mútua. Sua integridade me comoveu; sua fala pausada em respeito as minhas dificuldades com a língua incentivou mais diálogos. Logo notei que eu havia encontrado um amigo. Nas paredes da sala, imagens de Che Guevara e uma pintura em retrado de Jose Marti. Entramos numa sala de aula no térreo e quando os alunos me viram, levantaram-se e declamaram seu lema, uma frase de Jose Marti. Todas as turmas decoram seu lema no início do ano letivo e quando recebem visitas, devem se levantar e declamar. Eles chegam na escola ás 7:30 e até às 8:20 ficam livres para falarem de si, de casa, da família, para os coleguinhas e aos professores. Há um intervalo pro lanche da manhã e o almoço é depois do meio dia. O dia letivo acaba às 17:30. Há muitas escolas em Habana Vieja, instaladas em prédios bem pouco conservados. Lemay estava preocupado com uma escada de madeira no fundo do prédio, que estava deteriorada e até perigosa. Os banheiros eram precários, mas não insalubres. Os alunos recebem gratuitamente o material escolar e duas mudas do uniforme são dados à cada 2 anos. Entre o primeiro e o segundo ciclos do ensino fundamental, a cor do lencinho no pescoço é mudada numa cerimônia: do azul para o vermelho (ou seria o contrário?)
Naquele dia eu não pude visitar outras salas de aula, pois havia uma espécie de inspeção na escola. Certamente eu voltaria no dia seguinte, afinal, entrei sozinha na escola primária Fabricio Ojeda, mas saí com um amigo...
Seguem as fotos: do jardim à José Marti, Lemay em sua sala e os primeiros estudantes que vi, na rua.


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