Foram 13 dias em La Habana, vividos entre o primeiro e o segundo turno das eleições brasileiras de 2010. Estar em Cuba foi a realização de um sonho e pretendo dividir minhas impressões neste blog!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um ciclone de passagem pela Ilha

O guia caseiro de Maria avisava que entre julho e novembro viajar pra Cuba era um risco, pois esses são meses de furacões. Como meu passaporte vence em dezembro, nem cogitei mudar meus planos de viagem. A tarde estava nublada e depois de uma longa caminhada pela cidade, voltei à pensão. O rádio noticiava a passagem de um ciclone por Santa Clara, que seguia em direção à Habana. Era fim de tarde e adormeci lendo no quarto. Quando levantei, com um pouco de fome, já não tinha luz na casa. Como meu rádio era de pilhas, sequer percebi. Fui ler na sala. Chovia muito lá fora e o vento arrastava objetos que batiam nas paredes, provocando barulhos aleatórios. As janelas foram fechadas e quando já não havia luz natural para ler, o jeito foi dormir mais um pouco. Acordei por volta das 21 horas, ainda sem energia elétrica nas redondezas. Nessa parte de Habana os fios elétricos ainda são externos e a falta de luz é normal quando chove. Em outros lugares o sistema é subterrâneo e não há mais esse tipo de problema. Mas naquela hora não chovia mais, então decidi sair para comer e vasculhar Habana Vieja depois do temporal. Na verdade o ciclone em si não passou pela cidade e sim pelo mar próximo. Meus parâmetros de comparação era Niterói depois da tempestade. Me lembro de uma noite escabrosa em que voltei de bicicleta pra casa: a cidade estava alagada e uma multidão de ratazanas enormes se posicionavam em cima dos sacos de lixo e as baratas saiam dos esgotos feito água. Então eu me perguntava como estaria Habana depois daquele temporal. Protegida com uma capa de chuva, segui meu caminho ansiosa. Andei pro cerca de 5 quadras na escuridão. Algumas pessoas estavam nas calçadas e outras tantas dentro de casa conversando à luz de velas. O restaurante onde eu comia com frequência estava sendo fechado e diante da minha indignação, o ciclone levou a culpa. Logo em frente havia uma portinha que vendia pizza barata: 10 pesos cubanos ou 1 CUC, preço ótimo. Comi no balcão papeando com a funcionária, que já ia fechar o estabelecimento.
Devo dizer que não vi um rato, uma barata no meu caminho. Havia poças d´água, inevitáveis, mas alagamento nenhum. A saúde pública em Cuba é famosa mundo afora. Eu observei mais de uma vez homens entrando nas casas com uma espécie de aspirador de pó grandão e barulhento, espelindo fumaça pra dentro das casas. É o "fumacé" da dengue, diferente do Brasil, onde um caminhão passa pelas ruas. Em Cuba a proteção entra nas residências.
Voltei pra casa cantarolando uma salsa que eu tinha ouvido no caminho, pulando as poças e sentindo um alívio imenso ao pensar no caos causado pela chuva ríspida de quando vivia em Niterói....

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