Foram 13 dias em La Habana, vividos entre o primeiro e o segundo turno das eleições brasileiras de 2010. Estar em Cuba foi a realização de um sonho e pretendo dividir minhas impressões neste blog!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Novela brasileira e autênticas boas vindas

Depois de me acomodar na pensão, decidi dar uma volta pelas redondezas. A noite caia. Sem mapa e apenas com o meu sentido de orientação, passei pela igrejinha linda de pedra do século XVI e continuei caminhando a procura de um restaurante. Pedi informação para alguns policiais, que me indicaram uma rua próxima com diversas opções. Eu entrei num restaurante típico catalão e era intevalo da banda de salsa. Pedi uma cervja nacional e um prato com camarões. Atrás do balcão, suspenso, um aparelho de TV ligado. Havia apenas outra mesa ocupada, com turistas norte-americanos, o que presumi pelo sotaque. Duas mulheres que trabalhavam ali saíram afoitas da cozinha mirando a televisão. E para minha surpresa, a novela exibida era "A favorita", da rede Globo. Achei graça na dublagem em espanhol e então aquela primeira noite me foi familiar. Os cubanos tem novelas próprias, mas são apaixonados pelas nossas. Não foi apenas uma vez que ao me identificar como brasileira, a pessoa comentava seu gosto por nossas novelas. E o diálogo sempre seguia com minhas críticas, claro. Diferente do Brasil, onde tem-se diariamente 5 novelas num único canal, as novelas globais em Cuba passam dia sim dia não, alternadas com as mexicanas e cubanas. Meus interlocutores me ouviam com atenção e quase sempre achavam um exageiro mesmo. De fato a grade de programação da tv brasileira é um lixo e ao meu ver funciona como potente ferramenta ideológica. Sem exageiros, basta refletir um pouco...
Enfim, a TV cubana oferece aulas de línguas: pode-se aprender inglês, italiano, espanhol e até português através de cursos de bom nível. No dia 10 de outubro, quando se comemora a independência, assisti pela manhã um desenho animado educativo e também de algum modo propagandístico, sobre a guerra da Independência, com personagens típicos e certo grau de romance entre o menino crioullo e a mocinha.
Infelizmente na pensão do Nelson só pegava um canal e ainda assim muito mal, o Cuba Vision. Mas notei durante uma saída, quando se exibia a novela brasileira, que as pessoas ficam em suas casas, nas cadeiras de balanço (vi muitas) vidradas na telinha.
No jantar da minha primeira noite, a banda recomeçou o show e o volume da televisão foi baixado. Como eu já havia papeado com um dos integrantes, eles recomeçaram tocando uma versão cubana de garota de Ipanema, lançando sorrisos e entusiasmo. Não poderia haver boas vindas mais agradáveis.

Um comentário:

  1. Ah, que texto gostoso de ler! Por duas vezes nos EUA me deparei com O Clone. Uma em espanhol e outra em inglês. Achei bem curioso. Ri. E nesse riso tinha certa satisfação do produto nacional sim. Eu gosto de novela, tem um cunho social e criativo também. Não analiso apenas através da visão de quem mora nos grandes centros ou em médias cidades do Nordeste, por exemplo. Mas de quem mora no cafifó e vê nesse produto um mundo de entretenimento e tantas outras coisas. Já quis escrever novela. Se aceito os filmes americanos, seria no mínimo incoerente em não aceitar as novelas.
    Me deliciando com a perspectiva que a sua viage traz!

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